"For last years words belong to last years language
and next years words await another voice.
And to make an end is to make a beginning."
Amor, sexo, culinária, cultura e outras coisas de mulher...




inesperadamente passados num hospital, e com perspectivas de mudança, em todos os sentidos, me deixando sem lugar, sem tempo, sem saber e sem ser muito bem aquilo que eu gostaria de ser, encontrei o conforto de que tanto precisava em Ruth Reichl. Há muito tempo atrás, havia lido uma matéria sobre um livro, de uma crítica de gastronomia, no qual ela relatava suas aventuras para se passar despercebida nas visitas aos restaurantes "vítimas" de suas avaliações no New York Times. Na época, como não achei o livro pra comprar em lugar algum, deixei de lado a procura e a vida passou, trazendo outras histórias e outros autores. Então, logo antes do início da minha "estadia hospitalar" (e este é o momento em que penso se tudo na vida é fruto do acaso mesmo, ou...), resolvi perguntar pro livreiro, mais uma vez, da existência do tal livro; não o encontramos, mas durante a conversa nos lembramos do nome da autora, Ruth Reichl, e num lampejo me veio à mente que já tinha um livro dela, não aquele que procurava (Alho e Safiras: a vida secreta de uma crítica de gastronomia disfarçada), mas outro, Conforte-me com maçãs: amor, aventura e prazeres da mesa, que tinha adquirido num dos meus acessos de descontrole nas seções de gastronomia e culinária das livrarias (o descontrole em questão foi na Livraria Cultura da Av. Paulista, em São Paulo, lugar que pretendo adquirir quando ganhar na mega-sena, ou pelo menos saquear, para manter o controle das minhas finanças caso a sorte não assopre seus ventos em minha direção - o que provavelmente não vai acontecer já que eu nunca me lembro de fazer a tal fezinha nas lotéricas), após os quais sempre saio com mais livros do que um ser humano normal conseguiria ler, e sempre há aqueles que ficam "pra depois", como aconteceu com Conforte-me com maçãs. Chegando em casa neste mesmo dia, separei o livro para ser o próximo da fila (estava terminando O pedante na cozinha, de Julian Barnes, que estava me deixando profundamente decepcionada e consequentemente chateada; como o próprio nome diz, um livro pedante de um cara pedante, com textos pedantes que não levam a lugar algum, não emocionam, não inspiram, nem ao menos fazem rir, e se me pedirem pra contar uma das várias histórias do livro é capaz de não me lembrar de nenhuma delas...), mas aí as intempéries da vida fizeram com que tudo fosse interrompido. Voltando pra casa uns 20 dias mais tarde, com pontos a mais e uma vesícula a menos (detalhe curioso: levei pro hospital as edições de dezembro da Gula, da Food and Wine e O pedante, e namorado/marido dizia que "não faz sentido ler sobre comida em hospital, quando seu problema - a vesícula - vai te impedir de comer!"; mas deixa pra lá, quase ninguém entende o que significa ler sobre comida, e como é possível quase "comer" o que se está lendo...), fui pra casa da minha mãe me recuperar, e iniciei uma saga de readaptação do corpo, com dieta restritiva daquelas em que a lista de "não pode" é infinitamente superior e mais saborosa do que seu exato oposto, e me vi limitada ao minguado "pode" de algumas frutas, alguns legumes, pão integral, carne magra e queijo cottage. Então, ler as aventuras de cama, mesa e banho de Ruth Reichl me confortou de tal forma que passava as horas do dia deitada, lendo, e só. Em menos de duas semanas acabava Conforte-me com maçãs, tempo suficiente para o livreiro me conseguir Alho e safiras e pra eu poder sair da cama e ir buscá-lo. Se em Conforte-me Ruth contava o início de sua carreira, de cozinheira voluntária em uma comunidade hippie e escritora free-lance à crítica de gastronomia do Los Angeles Times, e de sua vida "adulta", de namorada "livre" do artista plástico Doug à esposa de um charmoso e inteligente jornalista (sim, eu me apaixonei por ele assim como ela...), Michael, passando pelos casos extra-conjugais da época do namoro com Doug, por sua gravidez, aos 41 anos, após o casamento com Michael, pela morte dos pais, as primeiras viagens "educativas" para restaurantes da Europa e Ásia, tudo isso recheado de receitas, muitas receitas, em Alho e safiras a etapa seguinte é narrada (e, de novo, estou seriamente acreditando que não há acasos que justifiquem esta sequencia tão imprevista mas ordenada de contato com os dois livros): rumo ao New York Times, já nacionalmente famosa e "procurada" - os restaurantes de NY espalharam sua foto e seus gostos culinários pelas cozinhas e aos empregados, na certeza de a identificarem e a agradarem, e de conseguirem as almejadas 3 estrelas. Então, chegaram até mim uma infindável sucessão de mais aventuras, através de 6 mulheres criadas por ela para se disfarçar e testar, de fato, e sem nunca ter sido descoberta, como os meros mortais eram tratados pelos estabelecimentos da cidade: a primeira de todas, Molly, uma educada dona-de-casa suburbana, a louca, destemida e calorosa Brenda (criatura pela qual Michael se apaixona, para surpresa da própria criadora Ruth, e que ganha o afeto instantâneo de seu filho Nicky), a subserviente, idosa, solteirona e solitária Betty, a socialite, decoradora e recém-divorciada, trocada por uma jovenzinha,
Chloe, (na pele desta, a autora se permitiu sair em uma série de encontros para jantar com outro homem, sempre com a permissão de Michael, e se permitiu seduzir e ser cortejada), a elegante porém desbocada Miriam, tão semelhante à sua própria mãe que enganava até os antigos amigos de família, e a ranzinza e mau-humorada Emily (na foto ao lado, numa rara aparição de Ruth "travestida" em uma de suas personagens), que permitiu à autora ver que seus desfarces a estavam fazendo esquecer dela mesma. Ao longo da saga, nos deparamos com as histórias da redação do NYTimes, os encontros da autora com os foodies (os arrogantes e ricos conhecedores de "enogastronomia", tão vazios em si mesmos quanto preenchidos com conhecimentos estéreis fruto de viagens ao redor do mundo), e alguns daqueles que seriam anos depois (no início deste século, pois o livro remonta à década de 90) os grandes chefs-celebridades da cidade, como Rocco DiSpirito (alguém se lembra do reality-show que a Sony exibiu há dois anos, que retratava os desastres da abertura de seu novo restaurante, pontuados com a prepotência e vaidade do novo "astro" da gastronomia americana?!; que ironia: no livro Ruth quase ter orgasmos com os pratos de DiSpirito, e o considera um gênio...) e Mario Batalli (no livro um chef ainda "sem-nome", sendo que apenas podemos ver que é ele pois Ruth relata as visitas a seu restaurante Babbo), passando pela sua paixão pelas "buracos" coreanos, japoneses e chineses, segundo ela os autênticos restaurantes orientais da cidade. Tudo isso, à maneira de Conforte-me, servido acompanhado de tantas receitas, além das críticas originais publicadas pelo Times. Ao fim, após a morte de Carol, sua melhor amiga na redação do jornal e companheira de aventuras gastronômicas, e uma crise "existencial" após tantos disfarces, Ruth recebe, na última página, um telefonema da revista Gourmet, na qual trabalha até hoje como editora (revista que coleciono mas, pasmem, nunca tinha percebido ser ela a tal autora dos livros que procurava) . Então, foi assim, que Ruth vem construindo um menu especialmente pra mim... Tive a as maçãs de entrada, o alho e as safiras como prato principal, agora só me falta aguardar a sobremesa, que chegará assim que o livreiro trouxer A parte mais tenra (na verdade, este deveria ser o amuse-bouche, o aperitivo, pois as histórias aqui vão da infância de Ruth até sua vida de cozinheira hippie, mas tudo bem, o acaso nem sempre é perfeito, mas como nada é mais doce que a infância...). Além desses, fico sempre me deleitando com as colunas dela na Gourmet, além do lindo site que ela mantém com receitas, comentários, vídeos e outras delícias (www.ruthreichl.com). De resto, só me cabe torcer para conseguir o último livro dela, este sim um livro de receitas, suas receitas de família, intitulado graciosamente de Mmmmm: A Feastiary by Ruth Reichl e também graciosamente oferecido quase todo na íntegra e online no site e esperar o tempo e o bolso pra enfrentar a leitura dos outros 18 livros editados e/ou prefaciados por ela e ainda não publicados em português, com a certeza de que se tem sua assinatura só pode ser coisa boa.




Anthony Bourdain… Qualquer coisa sobre ele, ou dele. Pode mandar, que eu degusto feliz, com a certeza de que é coisa boa. É claro, e infelizmente, meu apetite quando se trata dele se resume ao papel, já que nunca pude (quem sabe um dia...) comer algum alimento que ele tivesse preparado de fato, só mesmo suas palavras. Mas, e daí, não é? Não preciso ter comido nada de um chef pra ser fã dele, descabidamente fã dele, apaixonadamente fã dele, cegamente fã dele (sim, eu acho que até comeria ele, o próprio).
A primeira vez que ouvi falar de Tony, “meu amigo”, foi quando, há alguns anos atrás, adquiri dois dos seus muitos livros. Primeiro, um de seus romances, Cozinha confidencial, em que ele oferece uma memória de seus anos como chef, desde as primeiras experiências com comida, na infância, nas viagens que fazia à França com os pais, passando pela formação em gastronomia na juventude, no Culinary Institute of America, recheada de sexo, drogas e rock n´roll (a tríade sempre presente na consolidação da personalidade de alguém que se preze e que vai um dia fazer alguma coisa interessante no mundo, desde que em doses moderadas, claro – não, isso de moderado vale só pras drogas, pensando melhor), as experiências, a maioria frustrada, em diversos restaurantes pelo país, desde os mais ordinários bufês, passando pelas previsíveis cozinhas de hotel, pelas mil espeluncas fadadas ao fracasso, até chegar ao Les Halles, a brasserie em que ele está até hoje – de alma, na verdade, já que não comanda a cozinha presencialmente há uns oito anos – e que ele mesmo considera a melhor do mundo (amo esta certa arrogância despretensiosa que os melhores, e que sabem que são os melhores, têm...), e que serve a clássica culinária francesa, nada de nouvelle cuisine, mas a velha escola: coq au vin, poulet rôti, gratin dauphinois, vichyssoise, boeuf bourguignon, cassoulet, steak su poivre, steak tartare, tournedos rossini, bouillabaisse. Uma semana depois, comprei seu único livro de receitas, Afinal, as receitas do Les Halles: histórias, táticas e técnicas, com as principais entre aquelas que constam ou já constaram no menu do restaurante, algumas já mencionadas acima, além de dicas e orientações recheadas daquilo que Tony tem de melhor: talento, ironia, muita ironia, uma dose generosa de sarcasmo e desprezo pelo mundo e pelos outros (é só fachada, mas que cai bem pra ele), e uma presença de espírito que eu nunca vi igual – uma exemplo clássico é quando ele, mesmo sabendo que está falando pra cozinheiros amadores, destila a pérola: “Não se estranhe, se, às vezes, eu me dirigir a você, leitor, chamando-o de ‘idiota’. Espero sua compreensão e não quero que isso seja levado para o plano pessoal. Saiba que, se você não largar o livro, se estiver disposto a fazer um bom trabalho e tiver um pouco de amor e respeito pela comida, eu depois lhe pagarei uma cerveja no bar”.
Depois, totalmente apaixonada, saí correndo atrás do pouco dele que está disponível no Brasil: Maus Bocados e Em busca do prato perfeito – há muitos outros livros, como No Reservations e A cook´s tour, que são o relato de algumas de suas experiências nas viagens que fez para os seus programas no Travel Channel e que têm o mesmo nome dos dois livros, e os romances sem nenhuma ligação com culinária, como Typhoid Mary: An Urban Historical, Bone in the Throat, Gone Bamboo e Bobby Gold, além dos inúmeros artigos e crônicas para jornais e revistas como New York Times, The New Yorker, Gourmet, The Independent, Financial Times, Town&Country, etc.
Mas, e então, o que me atrai tão desmedidamente em Tony? Bem, sem dúvida, a prosa dele, que já me fez chorar e rir, e não foram poucas as vezes; mas, na verdade, além da forma, o conteúdo: suas histórias de vida, seu amor pela comida, mais do que pela culinária ou gastronomia – e imagino mesmo o desdém na cara dele ao pronunciar estas duas palavrinhas tão “mágicas” hoje em dia mas também tão esnobes –, a cultura absurda que ele possui, sobre música, sobre literatura, sobre cinema, sobre o mundo, a forma como ele vê a vida, a si mesmo, e aos outros... O amor dele pelos outros é mais desmedido do que o meu por ele, e é emocionante ler as palavras que ele dedica àqueles a quem ele admira, e como ele o faz sem pieguices e romantismo tolo – sua mulher, seus amigos chefs, os grandes chefs que não foram seus amigos, os cozinheiros mexicanos, porto-riquenhos, cubanos, o verdureiro, o pescador de ostras, o cara da lava-louças, as chefs mulheres, por quem ele nutre uma paixão especial, as mulheres em geral, José, o dono do Les Halles, as bandas punk nova-iorquinas dos 70 e 80... enfim, pra quem for gente boa e estiver fazendo coisa honesta, Tony será o primeiro a dar o crédito. Além disso tudo, o filho-da-puta ainda consegue, nos seus 52 anos, ser descolado e charmoso pra cacete! E eu me casei muito com ele um dia desses aí, e tivemos uma lua-de-mel incrível, embora ele não tenha sabido disso (foi depois que ele se separou de Nancy, sua primeira mulher, mas já nos separamos também, sabe como é, bebe muito, é meio desmedido pra tudo, é mulherengo, e essa coisa das viagens, esposa nenhuma agüenta muito isso, e aí... mas ele está bem agora, se casou de novo com Octavia e tem até uma filhinha de um ano que adora azeitonas, polenta e vinho tinto!).

Pra quem quiser degustar um pouco do meu chef preferido, há na lista de links da abertura desse blog o endereço para o blog dele, e há milhões de vídeos dos seus programas no youtube. A propósito, a caveira acima é a insígnia que está bordada no jaleco de chef do Tony: cozinhe livre ou morra. Não preciso dizer mais nada...

que é servido como antipasto, pois parece muito uma conserva:
uem quiser saber mais sobre Mario e seu estilo único pode ler o maravilhoso livro Calor, de Bill Buford), em que ele oferece um completo mapa das regiões da Itália com informações da cultura e culinária de cada uma delas, e no lindo livro Larrousse da Cozinha Italiana, que tem inúmeras receitas de pratos clássicos da culinária deste país. Acima, uma foto de Mario, que é uma figura, e da capa do Larousse.
o e apetitoso; nunca use filé, que por ser uma carne superior cozinha rápido demais)
Minhas receitas preferidas de drinks clássicos e reconfortantes, todas muito fáceis de fazer (pois ninguém quer ter muito trabalho quando se está numa festa, não é?) e que reúnem algumas das minhas coisas favoritas na vida (vinho, rum, limão e açúcar, além de amor, sexo, cultura e culinária, claro), retiradas de um maravilhoso livrinho chamado Classic & contemporary cocktails: the essentials collection, de Linda Doeser, começando pela minha preferida, Margarita!
A grande questão é: dá pra gozar, de verdade, somente com penetração, isto é, sem a mínima manipulação clitoriana, sem o mínimo atrito entre o corpo do outro ou do nosso corpo e a região do clitóris?


